Vivemos num tempo em que o tráfico de drogas nas escolas está cada vez mais presente. Quando traficantes se infiltram entre os alunos se percebe, claramente, que drogas e violência estão muito associadas. Isto fica mais claro quando se observa o crescente número de escolas em que a droga está claramente presente. Em muitas delas diversos professores e funcionários já sofreram agressões, não raro, pelos próprios alunos.
Então me surge a pergunta: como trabalhar a motivação dos professores, com tantas dificuldades como estas? Fico cada vez mais impressionado com o agravamento do problema das drogas, da corrupção e da violência.
A mais alta tecnologia está sendo aplicada com fins criminosos. A preocupação se justifica, porque o problemas está, cada vez mais, fora de controle. As drogas já se constituem numa verdadeira epidemia no mundo inteiro. As escolas e seu ambiente se tronam um alvo cada vez mais importante, por que os alunos, especialmente crianças e adolescentes são visados como consumidores em potencial.
O psicólogo Deroní Sabbi |
Refiro-me à hipocrisia de nossa sociedade. Dela fazem parte os pais e mestres, ao lado das autoridades políticas e das liderança sociais.
Não é raro vermos pessoas combatendo as drogas com um cigarro numa mão e um copo de bebida alcóolica no outra. Tanto o cigarro quanto o álcool também são drogas das mais destrutivas. O cigarro é a maior causa evitável de morte precoce por câncer e doença cardiovascular. O álcool é a causa que mais afasta pessoas do trabalho na America Latina. Muitos estudos evidenciam que as drogas abrem as portas para problemas sérios de saúde que pioram a qualidade de Vida, gerando crimes, corrupção e violência, e morte antecipada. Algumas drogas são socialmente aceitas e circulem livremente nas festas e convívios sociais, inclusive entre alunos e professores.
Os professores, ao utilizarem o cigarro e o álcool, publicamente, mostram um padrão de dependência similar ao apresentado pelos viciados em drogas ilícitas. Estudos mostram nitidamente a correlação das drogas permitidas com as drogas ilícitas.
Evoco uma situação que chegou recentemente ao meu conhecimento. Professores de uma escola estavam no aniversário de uma aluna. Certa mãe-professora falou, na frente de todos, a uma criança:
- Minha filha, por favor, traz um cigarro pra mãe?! Acende pra mãe, tá?
E a filha, de 8 anos, obediente, colocou o cigarro na boca, acendeu, deu a primeira tragada para testar se estava aceso, e trouxe para sua mãe.
São dispensáveis os comentários, não são?...
No dia seguinte o diretor da escola chamou a professora-mãe para conversar a respeito da importância do exemplo.
Gandhi era muito respeitado como conselheiro. Procuravam-no pessoas com problemas de toda espécie. Conta-se que, uma vez, recebeu uma mulher que veio lhe pedir ajuda. Seu filho era obeso e consumia muito açúcar. É claro que isto lhe fazia muito mal. Gandhi ouviu a mulher, em silêncio, e lhe pediu que voltasse 3 semanas depois. A mulher, acompanhada do filho, retornou à sua cidade de origem a centenas de quilômetros. Três semanas depois retornou com seu rebento. Gandhi, então, se abaixou, colocou-se de cócoras diante do menino e, olhando bem nos seus olhos, disse:
- Meu filho, não coma mais açúcar! Isto lhe faz muito mal.
A mulher ficou enraivecida. Olhou para Mahatma Gandhi e perguntou-lhe com irritação:
- Mas porque o Senhor não disse isto há três semanas atrás? Tive que voltar de tão longe e enfrentei tanta dificuldade para estar aqui, só para ouvir o que podia ter dito de inicio!
E Gandhi lhe respondeu:
-Minha senhora, há três semanas atrás eu ainda consumia açúcar.
Mas, eu não estou aqui para falar do açúcar. Embora não tenha a menor dúvida, que se trata de uma droga, também viciante e muito nociva, visto ser responsável pelo aumento alarmante da obesidade, do diabetes, e outras enfermidades importantes.
Quero, apenas, enfatizar, o que Gandhi quis dizer àquela mulher. Na sua coerência, quis mostrar que não adiantava pregar com “falsa moral”. Falar uma coisa e fazer outra produz um efeito contrário ao que se apregoa.
Isto é perfeitamente aplicável ao problema das drogas. Diversos estudos mostram que a raiz do problema das drogas está na desestruturação familiar e na falta de uma educação emocional. Há uma falsa moral quando pessoas que chamam para si a vocação de educar, dão demonstração de dependência de álcool, de fumo, de consumo excessivo de refrigerantes, chocolate e outros produtos que sabidamente são prejudiciais à saúde.
No entanto, sabemos dos bons exemplos de outros tantos pais e mestres mais conscientes, pois como sinaliza um antigo pensamento chinês: “Um exemplo vale mais do que mil palavras”. Quando se fala uma coisa e se faz outra, o que se imprime na mente do educando é o exemplo do educador. E isto é uma evidência da falta de educação emocional.
Então, quando me refiro a estes pontos, nas palestras de motivação para professores, lembro que nossa educação tradicional, ao combater os males que se apresentam, direcionada muito sua atenção à parte lógica, racional, e à condição técnica de cada área, que fica muito segmentadas e dissociadas em suas partes. O resultado é a criação de técnicos geradores de capital e não de seres humanos conscientes. Muitas vezes as ações para combater estes males se direcionam às consequências e não às causas.
Quando olhamos questões como as drogas e a violência, não estaríamos nós olhando apenas para as consequências?
Na maioria das vezes, pouco nos preocupamos com uma educação das emoções e com o desenvolvimento de atitudes e valores desde a mais tenra idade. Esquecemos que as crianças e jovens de hoje farão a sociedade de amanhã. Por isto, lembro uma vez mais que nada os educa mais do que o exemplo. Nada mais oportuno do que lembrar o conhecido ditado de que “A palavra mostra, mas o exemplo arrasta”.
Albert Einstein, quando viu seus conhecimentos serem aplicados para a construção da bomba atômica que dizimou Hiroshima e Nagazaki, contrariando o mais básico princípio de ética e solidariedade humana, falou: “- Há duas coisas de que tenho convicção: da infinitude do Universo e da estupidez humana, mas da primeira não tenho certeza absoluta...”
Ocorre-me, então, a pergunta: - O que cada um de nós está fazendo para minimizar a estupidez humana de que fala Einstein, e aumentar o bom senso e a sabedoria que nos faz parte de uma humanidade mais saudável e virtuosa? Estaríamos, nós, esperando que alguém faça a mudança que cada um de nós precisa fazer?
Estaria, Einstein, se referindo às atitudes e aplicação da inteligência, sem nenhum respeito ao ser humano, e sem nenhuma sabedoria?
Não é preciso ser muito inteligente para perceber que é isto o que faz uma grande diferença. Estas atitudes e esta sabedoria se manifestam mais facilmente, quando a educação emocional está presente. Ela implica no desenvolvimento da consciência, no autoconhecimento, o auto-controle, a boa administração das emoções, da empatia e de uma liderança e cooperação humanitária. Mas, sabemos que isto só é efetivo quando há exemplos consistentes. Se a educação das emoções proposta pelo modelo da inteligência emocional é a chave para uma ação mais responsável e ética em todos os níveis, o que por si só atuaria como um antídoto para a corrupção, originando uma sociedade mais humana e justa, porque não investimos mais nisto?
Quando percebemos que estamos vivendo num mundo com tantos problemas, onde a maioria se sente impotente para mudar as coisas, os professores precisam ser colocados a par da importância da `` resiliência,`` um termo que vem da física, e que é, hoje, aplicado ao comportamento humano. Representa a resistência e flexibilidade que precisamos ter em situações de dificuldade e de crise. Ou seja, precisamos nos fortalecer e ter em mente o que queremos e para onde queremos ir. Esta capacidade se desenvolve na prática, quando lidamos com os problemas. É nas crises que mais aparecem nossas atitudes, por que somos bservados por aqueles que nos tomam como exemplos. Nestas situações, mais do que nunca, os mestres precisam ser um exemplo. Nas menores atitudes do seu dia a dia, podem inspirar os seus alunos a viverem uma vida saudável, com valores elevados, à luz da moral e da ética.
Então, quando falamos em motivação para professores,precisamos lembrar que suas ações inspirarão os alunos que não vem à escola apenas para aprender conteúdos, mas também para buscar orientação na escolha de seus caminhos e da maneira de viver sua vida. Gandhi enfatizou este ponto quando afirmou: ”Sejamos a transformação que desejamos para o mundo”. Isto deixa claro, que devemos começar por nós mesmos. Precisamos ser coerentes com aquilo que queremos ensinar. Isto cabe aos pais, que são a primeira influência na formação do caráter dos filhos, e cabe aos professores, que irão reforçar as influências positivas ou negativas que as crianças trazem do berço familiar.
Vocês conhecem a metáfora do Beija-Flor? Com seu pequeno bico trazia água do lago, gota a gota, tentando apagar um incêndio na floresta. O macaco que o observava o contestou:
- Mas que bobagem, Beija-Flor, você nunca vai conseguir apagar o fogo da floresta.
Ao que o passarinho respondeu:
- Eu sei... mas estou fazendo a minha parte. Você está fazendo a sua?
Com freqüência sou convidado a falar sobre moral, ética na educação, e motivação dos pais e professores.
Costumo repetir o que ouvi de um mestre e amigo:
“O que é ética, em termos bem simples de modo que possa ser entendido tanto pelos pais e professores quanto pelos educandos?
Ética é fazer aos outros só aquilo que queremos, seja feito a nós mesmos.
Moral é não precisar fazer nada escondido. O que precisa ser feito às escondidas, pode não ser moral.“
Para instigá-los à reflexão, eu lhes pergunto:
- Se hoje são conhecidos procedimentos que podem atuar no cultivo e desenvolvimento de valores e melhores atitudes, desde a mais tenra idade, ao invés de priorizar apenas a inteligência e a lógica, porque não se trabalha mais efetivamente a educação emocional?
Para sermos respeitados precisamos ter moral. Para ter moral, precisamos dar exemplos. Só o bom exemplo inspira o respeito.
Na realidade isto parece fácil mas não é. Muitos se acomodam, por que não sabem ou não tem a energia suficiente para começar. Um bom começo é reexaminar o que pensamos, o que sentimos, o que fazemos e como o fazemos, em nosso. O primeiro passo é refletir sobre nossas atitudes.
Na luta por sermos melhores educadores não há espaço para o comodismo e alienação. Trata-se de um exercício e um aprendizado diário que exige esforço e persistência. Mas é o único caminho para cada um tornar-se, primeiro um ser humano melhor, e segundo, um líder educacional, capaz de influenciar positivamente o ambiente em que vive.
Certa desembargadora, assim concluiu uma palestra sobre drogas:
``Não pode haver nada pior do que um bom conselho...” e após um momento de silêncio, completou: “...seguido de um mau exemplo.”
Faço minhas as suas palavras.
Obrigado pela atenção.
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